quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Obrigado!

Discurso de Paraninfo para os alunos do 3ªA, Colégio Fleming Campinas. 07 de Dezembro. Ano 2011.

***

Senhores pais, amigos professores, coordenação, direção, convidados,... Meninos ... boa noite!

É incrível pensar como depois de três anos - com encontros de quase duas horas semanais - eu ainda tenha coisas a serem ditas pra vocês.

Honestamente não haverá nada de novo. O curioso ou o interessante desta fala reside justamente na minha tentativa absolutamente amadora de falar coisas velhas - e descaradamente batidas - dando-lhes uma roupagem de gala.
A intenção - que fique bem claro! - é menos a pretensão, e mais a necessidade de vê-los, de novo, ... de vê-los, uma última vez, na verdade... atentos àquilo que eu julgo - arbitrariamente - importante falar sobre o mundo.

***

Certa vez - era uma sexta-feira de 2009 - a Profª. Silvana, de Gramática, afirmou o seguinte a respeito do 1ºA - hoje 3ºA: “Eles são espetaculares! É a turma em que ninguém se repete... tem de tudo ali...”.

Na época, eu tinha inúmeros problemas de disciplina na turma. Por vários motivos. Mas... sobretudo... por eu não compreender que eu não podia dar UMA aula para 25 alunos. A fala da Profª. Silvana veio epifanicamente me esclarecer que eu deveria preparar de um mesmo tema 25 aulas para 25 alunos.

Evidentemente se alguém me perguntar, eu não vou conseguir nem esboçar uma resposta de como se faz isso. Também não posso garantir que de fato naquele ano eu tenha dado no mesmo espaço-tempo 25 aulas diferentes. Às vezes eram 23, 15, 7... às vezes - e eu preciso ser muito honesto com relação a isso - não conseguia nem meia aula direito.

Às vezes, contudo, - e essas também não foram poucas ao longo destes três anos como professor de Literatura -, cada uma das aulas que eu preparava... para cada um de vocês... de repente se fundiam em uma só, e de repente eu tinha a um só tempo a generosa e respeitosa atenção de todos de uma só vez. (Pausa) Aí... (Pausa) matávamos Inês de Castro juntos, morríamos de amar com Werther, subíamos em cima de defuntos na frente dos diretores da escola, na taverna do Álvares de Azevedo.

Vocês transbordavam da sala, esparramados... Rigorosamente travessos, forçavam os caprichos do mundo que queríamos na sem-gracisse do mundo que tínhamos. E mesmo nossas falas... ali dentro, elas nunca conheceram muitos os limites do que elas podiam dizer para aquilo que gostávamos de imaginar. E de repente... (pausa) por uma espécie de milagre absolutamente premeditado... (pausa) vocês sempre me faziam acreditar - porque, de fato, é verdade - que podemos muito mais o que queremos do que o que precisamos.

Nesses momentos, ... (pausa) onde estávamos menos na sala e mais no mundo, gradualmente nos despedíamos. Porque o professor... os professores... (pausa) servem pra isso mesmo: para escrever o melhor prefácio do mundo... sobre o mundo... para que depois vocês mesmo o conheçam, e o vivam, e o chorem, e o rasguem... e o reescrevam, e o mudem... como tão gentilmente vocês tantas vezes me mudaram...!

Obrigado!
Prof. Alexandre

sábado, 3 de dezembro de 2011

Augusto Mendes Ribeiro

No dia em que Augusto Mendes Ribeiro morreu, eu fiquei verdadeiramente triste. Ele era uma ótima companhia. Sobretudo para os momentos ruins! Quando eu estava quebrando a casa porque certa mulher não mais me procurava, ele aparecia com pinga, numa garrafa pet de 600 ml e me convidava a beber até morrer. Eu - evidentemente - bebia duas ou três doses e morria. Ele, quando eu 'ressuscitava' no dia seguinte, parecia ter passado a noite assistindo a filmes cults e comendo alimentos à base de soja.

Eu acho que fazia bem às minhas mediocridades ver o quão bem Augusto Mendes Ribeiro vivia como gente simples.

Aí ele morreu. De verdade. Nem foi da bebida. Até onde sei, parece que foi um atropelamento. Ele também não foi o culpado. Parece que o motorista - esse sim embriagado - avançou no farol vermelho. Às quatro da tarde! Aí ele morreu. Meio na hora, meio no hospital.

Eu acho que pessoas como o Augusto Mendes Ribeiro nem deveriam morrer. Eu deveria! Eu complico demais as coisas; tento adivinhar o futuro; preocupo-me exageradamente com minha imagem; aprendo coisas que nem são pra mim; tenho preguiça... e por aí vai... Já o Augusto Mendes Ribeiro vivia muito bem na sua simplicidade. E se agora ele morre - meio velho, meio novo, meio bêbado, meio bom, meio pobre, meio paupérrimo -, morre como um ser humano inteiro, que a vida toda não se preocupou em forjar as suas metadinhas, senão sendo.

Eu nem sei se adianta essa coisa de dizer em voz alta com fé. Ultimamente tanto a voz alta como a fé têm me faltado. De qualquer forma, Augusto Mendes Ribeiro merece toda a minha metade não afetada por mim: descanse em paz, meu bom amigo!

Nos vemos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Na loja de eletroeletrônicos...!

Certamente ele não era um comprador. Estava ali na loja mais ou menos como estão todos: apertando aleatoriamente os botões disponíveis e ouvindo desinteressado trinta segundos de músicas dos discos das prateleiras.

O tablet da Apple parecia verdadeiramente atraente. Já se via possuidor de um daqueles. E via também a expressão de impressionado que seu cunhado faria quando ele tirasse da capinha o brinquedo recém adquirido.

Ele não parecia ter mesmo intimidade com as tais novas tecnologias. Tanto que mexia no Ipad mais ou menos da mesma forma como quando se busca uma caneca para dar de amigo nas confraternizações de firma de fim de ano.

Apertou, sem querer, o ícone da galeria de fotos. Ali achou certa graça ao ver desconhecidos fotografados em seus trajes de domingo, que sorriam para fotos as quais provavelmente nunca mais veriam. Passou umas quarenta daquelas imagens, até que se deparou com três ou quatro vídeos de 9 segundos, filmados certamente no susto de outros pares que também lidavam mal com tecnologias como aquela.

Quando estava prestes, contudo, a deixar de lado o aparelho, clicou naquele que seria o seu último vídeo:

“Olá! Meu nome é Roberto! Não acho que alguém vá assistir a esse vídeo. De qualquer forma, fica aqui registrado. Não aguento mais essa m... de vida! Espero que vocês consigam suportar suas existências de 70, 80 anos... a minha já me fica bem aqui pelos vinte e poucos... Não vou falar mais porque ninguém entenderia mesmo... Nos vemos!”

Ainda assistiu ao vídeo mais uma vez. Em seguida, voltou para casa para fazer os exercícios da apostila do curso de Espanhol...


Nos vemos.

sábado, 12 de novembro de 2011

Estilhaços

Largadamente jogado.
Não me consigo ser perfeito mesmo.

Muitos papéis espalhados.
Mas o prazer pesa a frágil cama.
Afirma a desimportância das coisas todas.
Pela janela, a brisa anuncia gostosamente a chuva.

Mesmo no blog da redação do UOL ela já havia sido anunciada.
Evidentemente há muitas coisas por fazer.
O violão, os samples, e a fúria das guitarras imobilizam as providências.
De repente, o preenchimento.

Livros largados.
O filme no pause.
Pratos arbitrariamente se acumulando...


De qualquer forma, melhor sorrir agora.

Evidentemente isso não foi um poema. Isso... só aos trinta mesmo!

Nos vemos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

[Sem título adequado]

A criança na mesa ao lado, ainda de colo, manteve-se observando a conversa o tempo todo. Nunca eu a acusaria de fofoqueira, bisbilhoteira; não mandaria que se virasse e respeitasse a nossa privacidade. Assim que ela chegou, acordamos - sem dizer palavras - que se aquela criança quisesse ouvir a nossa conversa, ela simplesmente poderia.

Acho que ela não quereria fazer nenhum tipo de comentário ao longo das nossas falas. Seria uma espécie de observadora privilegiada... Permitiríamos que ela analisasse nossas expressões, ora de desconforto, ora de espontaneidade... Ela não nos atrapalharia nem mesmo se jogasse de sua cadeirinha um de seus brinquedos de borracha no chão. Pacientemente eu me levantaria para apanhar o objeto e o entregaria com um sorriso de bom gosto nas mãos ainda trêmulas da criança.

Imaginei que talvez nesses momentos ela pudesse imperceptivelmente me chamar e me dar alguns conselhos - orientações de alguém que ainda não estivesse febrilmente viciada nas coisas da mundo -, para que errasse menos a posição das minhas mãos, o timbre da minha voz, a intensidade dos meus olhares.


Os brinquedos, contudo, não caíram. Tratava-se certamente de uma criança ainda mais educada e mais discreta do que sua aparência sugeria.

***

Seus pais resolveram ir embora. Não sabia da hora, mas achei que iam cedo. Ainda com uma última espiada, não consegui decidir se a expressão da criança era de satisfação ou tédio; se me aprovava ou reprovava. Saber seria importante pra mim. Uma espécie de alívio, ou de parâmetro para correção. Ela, contudo, mantinha as mesmas expressões da chegada: sempre sorridente, corporalmente agitada, e curiosíssima com os meus olhares. Sua pouca idade definitivamente abocanhavam a minha maturidade vacilante...

A criança se foi. A mesa provavelmente seria ocupada por algum casal de ocasião; e as atitudes e olhares dos dois, diriam muito menos do que as marotices da criança. Ainda agora sinto falta da criança.

Nos vemos.

domingo, 24 de julho de 2011

(...)

João gesticula de modo a criar nas mentes mais fracas as imagens que tão dramaticamente descreve. Mais da metade dos alunos, contudo, mantêm-se impassíveis, frente às suas palavras.

Outras folhas – essas desenhadas – embora pululem também, dos mesmos cadernos, ainda que algumas chovam de baixo para cima de cadernos até então inanimados – como deveriam ser todos os cadernos -, tomam os contornos principais da sala, instituindo uma atmosfera apocalíptica na qual, por fim, algumas verdades absolutas serão estacadas no seio da humanidade.

(...)
"Qualquer um de vocês poderia ser personagem de um romance; qualquer um de vocês poderia ser personagem neste romance".

sábado, 23 de julho de 2011

A história das coisas II

(...)


Mesmo a sua única conta de e-mail. Essa guardava atualmente a incrível quantia de 8767 mensagens recebidas. Tinha a conta há seis anos. Mas admirava-se muitíssimo de ainda hoje, depois de tantas mensagens apagadas – algumas apagadas antes mesmo de serem lidas -, ter armazenado mais de oito mil e-mails. Se quisesse, com algum esforço – não muito -, poderia contar a história da sua vida inteira por aqueles e-mails - os recebidos e os enviados. Embora eles tivessem sido inventados, enviados, lidos e apagados no curto prazo, em perspectiva, de seis anos, certamente neles era possível ler a sua vida inteira.

“Se eu escrevesse a letra a nessa mesa, pensou, nela já estaria minha vida inteira?”

(...)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

“Andei por 50 000 palavras até encontrar tu, Eu!”
(...)

Ainda faltavam quatro dias para aula. Seria no primeiro período da segunda-feira. Ainda era quinta. Digitou o título da aula no nome do arquivo do documento de texto. Ainda gastou longo tempo centralizando o título na folha virtualmente em branco, escolhendo a fonte, o tamanho dos caracteres. Com muito êxito, conseguiu evitar as consultas pasmódicas às suas redes sociais, à caixa de entrada da única conta de e-mail que mantinha. Imaginou-se um crítico – melhor... um opositor, a resistência – do sistema quando decidiu fechar o navegador de internet para melhor se concentrar na tarefa que tinha proposto para a noite da sua quinta-feira.

Contudo duas ou três das suas convenientes divisões de consciência acusavam-no de hipócrita por achar que apenas por querer ignorar por algumas horas o seu navegador de internet ele seria melhor do que todos aqueles que estariam confessamente empanturrando-se de vidas alheias.

(...)

sábado, 9 de julho de 2011

Nos próximos sete dias, vou editar o texto abaixo. Ele está, muito aos poucos, nascendo da leitura da biografia da Clarice Lispector - "Clarice,", de Benjamin Moser. Todo o processo de escrita e reescrita do texto será diariamente registrado. Evidentemente as marcas da organização desaparecerão. No próximo sábado, sobrará apenas o texto, inteiramente escrito, razoavelmente pronto, e livre de qualquer marca metalinguística de sua produção. Vamos ver o que acontece!


Aula de Literatura

- Bom dia a todos! Meu nome é Clarice Lispector. - Mantém os olhos vidrados na turma, como quem já está consumido pelo tamanho da tarefa.

- Não sei se vocês já me conhecem... ...serei a professora titular de Língua Portuguesa de vocês. Darei aulas de Literatura. "É pouco, é muito pouco. Mas já é um pouco mais do que estava sendo."

Bem... antes das apresentações, "Besteira achar que conseguiríamos nos apresentar...", gostaria de falar um pouco sobre a impossibilidade desse curso.

...

É o sinal? Devemos sair? - Todos parecem cansados com a necessidade de cruzar a porta...

Nos vemos.

Não é possível dar prosseguimento a ideia da construção do texto. Os primeiros preparativos já me dizem que esse texto não pode ter o formato cabível em um blog. Portanto, contra as minhas vontades, estou encerrando-o nas poucas linhas que escrevi para desenvolvê-lo em outra instância.

De toda forma, muitíssimo obrigado pelo interesse que vocês demonstraram por ele. Certamente vocês terão notícia dele!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Enfim, só mais um de amor

- "Ela se matou por causa desse amor!" - disse a professora Elisabete, folheando um álbum de fotografias, junto com a inspetora Cláudia. No último dia de aula antes das férias, não se faz muito coisa mesmo, né...

Até aquela frase, o diálogo entre as duas não havia chamado a atenção de Maria Cecília. Ali, contudo, algo a transtornou: o que seria exatamente esse "AMOR". Seus quatro anos ainda não haviam esclarecido isso pra ela, muito embora fosse, aos olhos de muitos adultos que conhecia, uma criança prodígio.

Cecília, mesmo com a pouca idade, parecia saber já uma porção de coisas! Sabia que o estatuto da criança e do adolescente continha leis que protegiam a criança e o adolescente; já havia ido a Campinas, Bauru, São José dos Campos, Rio e Ribeirão Preto, Caconde...; tirava sons melodiosos da flauta doce; aprendera há muito tempo – talvez já há uns 15 meses – a como fazer bolinhos de chuva – a massa pelo menos...

Aquela situação, contudo, não lhe caiu muito bem. Percebeu, que, de fato, não sabia o que era o “AMOR”! Diabos!

...

Cecília começou uma investigação profissional! Não perdeu de prestar atenção nos diálogos em que aquela palavra fosse referida novamente. Fosse com a mãe, com o pai; na quitanda, onde toda tarde ia comprar chocolate Surpresa, com os primos mais velhos... Era toda interesse para esclarecer logo o que era aquilo que havia feito, ao que tudo indica, pelo menos uma pessoa morrer...

Não perguntava diretamente sobre o assunto. Achava indigno não conseguir descobrir sozinha, apenas a partir das evidências que o mundo lhe dava. E como não soubesse ler, nem a dicionários, livros, revistas, jornais, internet poderia recorrer. Ela não sabia nem a forma do “AMOR”.

...

Certo dia, na cozinha de sua casa, sua mãe conversava com a tia Tata, enquanto esperavam que o bolo de cenoura ficasse pronto. Dona Eliana leu alto o rodapé da capa de uma revista que estava ali por cima das coisas, há semanas:

- "Próxima novela das seis vai se chamar 'Amor aos pedaços', revela diretor"...
Cecília não perdeu tempo:

- Mãe, corta pra mim onde a senhora leu "AMOR"?

A mãe cortou cuidadosa, achando graça no pedido da filha. Não perguntou porquês, com medo de intimidar o interesse da menina.

Cecília tomou a palavra na mão. Ainda restava o pedaço da próxima palavra: “AMOR A”.
Então tinha nas mãos o “AMOR”. Ainda que não tão bem cortado, imperfeito... Ali estava. Sentia-o, liso, fresco, destacado do seu todo, mas, pensava, potencialmente grande, e eclético. Parecia bem simples: "A-M-O-R". Conseguia identificar que eram quatro letras. Olhou por algum tempo, muito menor do que o tempo que se demora para descrever a cena.

Caso resolvido!

Antes de passar para o próximo - uma curiosa pesquisa sobre a Hungria -, colou o pedaço de papel na agenda, no dia corrente... 07 de julho.

Foi com algum descuido que, ao tentar tirar o excesso de cola, rasgou parte da palavra.

- Ai... rasguei! - falou desolada.

Ficaram dois pedaços ligados por um pedacinho frágil de papel: “AM” e “OR A”.

Consertou como pôde, com fita adesiva. Ficou com medo de que houvesse represálias por parte de algum poder divino. Era sempre bom ter algum cuidado, né...

...

Um dia, 50 anos depois, a professora aposentada Maria Cecília achou seus diários antigos, mexendo nas velharias em um quarto empoeirado. Morava no Jardim Bom Pastor, em Santo André, perto da grande São Paulo.

Seu primeiro "AMOR" ainda estava ali, evidentemente meio rasgado, guardado nas páginas do primeiro diário. Parecia envelhecido, junto com as páginas de todos aqueles dias de julho...

Lembrou que “Amor aos pedaços” não havia sido uma boa novela...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Fim.

Lembro-me muito bem de como tudo isso começou. Eu tinha 14 anos. Era um sábado à tarde e nós finalmente havíamos conseguido reunir toda a nossa turma para irmos ao cinema. Eu ainda não seria um professor de literatura, nem gostaria tanto de rock, não viria morar em Campinas e muito provavelmente ainda não era um viciado em panetone. Era um leitor de ocasião. Da ocasião que a escola propunha. Um leitor do necessário; somente o necessário.

A tarde corria adolescentemente bem. Os flertes de sempre, a batata também, as piadas também. A sessão de cinema correu classicamente normal. Os amigos mais exaltados fizeram a guerra de pipocas; rolaram as conversas paralelas antes do filme começar. Depois, o filme começou.



Ponto final. Depois disso, acho que a história da minha vida foi reescrita naquelas poucas horas de filme. Foi uma espécie de reprogramação. Tentando outras interpretações, foi a definição oficial de qual seria - será - por muito tempo a minha contribuição pra mim mesmo e para o mundo.

Saí da sala de cinema impressionado, e previsivelmente quieto.

10 anos depois, agora, no próximo dia 15 de julho, ocorrerá o final simbólico dessa geração na qual tão honrrosamente nasci. Hoje eu não lembro mais a criança impressionada do pós filme. Com honestidade, mesmo as histórias de cada um dos livros estão um pouco desencontradas na memória.

No entanto, é uma obrigação eu destacar pra mim mesmo, e talvez, com certa pretensão, para as próximas gerações também, que o leitor que eu sou hoje foi, em grande parte, construído por cada uma das histórias da SAGA HARRY POTTER!

Conheci grandes pessoas através delas e vivi - não tenho dúvidas - grandes narrativas reais por conta das páginas de Harry Potter. Acho que esse fim terá um sabor muito aquém daquilo que todo o processo representou para os milhares de fãs da série, mas é um fim necessário para que tenhamos claro os contornos disso tudo! Ficam aqui, as minhas honestas palavras de agradecimento, sobretudo à autora, J.K. Rowling!


Nos vemos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O mês de junho impressionista

Deixei as rosas compradas!
Elas apodreceram todas dentro do carro.
A decisão da entrega não foi simultânea ao querer recebê-las.

O mês de Junho é assim mesmo! Contundente, definitivo, cirurgicamente preciso! A minha impressão é que toda a minha existência cabe dentro do mês de junho. Como se todos os outros meses fossem apenas preâmbulos para esses 30 dias. Estranhos trinta dias! Vocês nunca me sairão da memória! As minhas lembranças inteirinhas são de vocês!

Nos vemos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Oração em fragmentos

Faz três anos e meio da sua morte. Talvez a palavra "morte" soe forte demais, mas acho que é a de significado mais exato. Qualquer sinônimo não precisaria a distância espaço-temporal que me encontro dele agora...

O cemitério estava lotado. Todas as salas de velória estavam preenchidas. Por mortos e por vivos. Mais por vivos do que por mortos. Morre-me muito hoje.

Entramos na floricultura. A vendedora de flores me passou a impressão de ser macabramente feliz.

"Olá, tudo bem?" - disse.

Por sorte "nosso morto" não tinha morrido naquele dia. Mas será que ela recebia a todos clientes daquela maneira?

"Tudo bem? Senhorita, minha mãe morreu não faz nem quatro horas e você vem me perguntar se está tudo bem? Vai pra puta que te pariu!" - Diria alguém menos aleatório num cemitério...

Compramos um vas"inho". Simples. Singelamente suficiente.

Não subimos as alamedas do cemitério a pé. Em dois minutos, descíamos do carro, estacionado bem próximo à entrada da rua, onde o túmulo estava.

Colocamos as flores. Discutimos frivolidades a respeito dos enfeites das lápides ao redor. Rimos do contraste entre o luxo do cemitério e a paisagem favelar que o rodeava.

Tínhamos que acender as velas. Alguns passos até o velódromo - que nome, hein! Acendemos. Uma duas três quatro cinco seis sete oito. O vento fez apagar a quatro e a sete, ao que foram novamente acesas com a chama da cinco e da oito.

Atrás da gente, dois cortejos passavam. Mais dois corpos para suas moradas.

Mais algumas palavras sobre o tempo e o vento. Também havia certa angústia por saber o resultado dos jogos do Brasileirão.

Entramos no carro e partimos. Um a zero Corínthians!

Nos vemos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O soco!

A porta do meu guarda-roupa, há uns três meses, descolou-se da estrutura do embutido. Coloquei atrás da porta do meu quarto. Ficou lá, por longos três meses, parada.

Todos os dias, quando eu acordava, e abria a porta do quarto, ou a fechava, o pedaço de madeira tremia, como quem quer cair, mas não cai porque sua intenção era mesmo só dar medo em quem pudesse pensar que ela poderia cair.

Três meses. É bastante tempo. É até difícil contar quantas vezes eu entrei e sai do quarto. É tempo mais que suficiente para eu sair desse quarto e talvez não voltar mais. É tempo para eu ficar dentro escrevendo um livro. Começar e terminar o livro, na verdade.

Três meses. É possível ter muitos dias sensacionais em três meses. E dias muito ruins. E dias péssimos.

A porta do guarda-roupa ficou ali: obediente, estática. Em um dos dias, dois até, tirei a porta do lugar para varrer aquele canto. Não demorei muito para botá-la onde estava.Já havia passado muitos dias antes da limpeza. Depois disso, outros tantos passaram.

E não é que hoje, no fim do dia, quando já não se está com disposição pra mais nada, a porta não saiu do lugar! Arrumei a cama pra dormir, vesti a roupa de dormir, escovei os dentes para dormir, desliguei o computador. Fui dormir. Quando fui fechar a porta do quarto, eis que veio a porta do guarda-roupa, com vida própria, socar o meu rosto... em cheio!

Não revidei. Coloquei a porta novamente no seu devido lugar. Vai ficar o roxo do soco. Vai ficar a sensação de que eu poderia ter evitado o soco se tivesse consertado o problema nos três meses que tive para consertá-lo.

Nos vemos.

sábado, 14 de maio de 2011

Era uma apresentação de coral. No Auditório Ibirapuera. A plateia estava lotada. Eram pessoas para ocasião e pessoas ocasionais, que aproveitavam o fim de tarde no parque e aproveitaram para sentar e assistir ao que iria acontecer. Certamente essas estavam dispostas a ver o que fosse.

Depois dos três sinais, os integrantes do coral entraram. Um a um. Brancos, negros, senhoras, jovens, senhores, moças. Não contei quantos e quantas entram para cantar. Talvez duas dezenas de pessoas.

Foi a última das integrantes, contudo, que me impressionou. Ela era loira, alta, talvez tivesse seus 1,80m. Tinha um rosto absolutamente discreto. boca pequena, olhos pequenos, a constância do quase sorriso. Fiquei impressionadíssimo. Não tirei os olhos dela durante boa parte da apresentação. Passou Vinicius, Gilberto Gil, Tom Jobim... Nada disso foi mais impactante do que ela. Na verdade, acho que nunca tinha visto uma mulher tão bonita como aquela. Tanto que quando pisquei e voltei a olhá-la, já não era mais ela. Tratava-se de um quadro, uma pintura. E não falo em termos metafóricos não... era realmente um quadro, no qual o pintor havia tido a felicidade de fazer ali uma obra prima.

A mulher mais bonita que eu já vi... As cores eram suaves, mas me atingiam com uma intensidade indescritível. Os traços eram fugidios, mas marcaram com bastante contundência aquela imagem na minha memória. Nunca esquecei tamanha beleza!

No final da apresentação, voltei a piscar, e tive a impressão de vê-la se mexer. Acho que era esse o meu desejo: vê-la real! Não se mexeu era o memso quadro estático, de beleza etérea. Pisquei mais uma vez e nem o quadro era mais.

Sobrava apenas eu, sentado sozinho ali no auditório.

Nos vemos.

sábado, 16 de abril de 2011

A história das coisas I - na mesa, exceto o computador.

As caixinhas de som não são minhas. Achei em casa, em algum móvel perdido - o móvel e as caixinhas.

O estojo tem estampas do Sonic. Ganhei da minha mãe na segunda série. Uso-o até hoje. Provavelmente não haverá um tempo em que não vou usá-lo.

Ele, o estojo, está em cima de uma pilha de 30 provas. Sou professor. De literatura. Essencialmente de literatura. As provas são de literatura. Considere que existe um espaço-tempo em que se fazem provas de literatura.

Há quatro livros empilhados, ao lado direito, próximo ao computador. "Histórias Extraordinárias", "Um estudo em vermelho" e "Ilha do tesouro" - livros com os quais trabalhei no primeiro bimestre nas escolas em que atuo; "O renascimento italiano", Peter Burke - para pesquisa.

O celular é um modelo da Sansung. Tem exatamente um ano. Serve bem para as ligações e para identificar músicas.

Nos vemos.

sábado, 9 de abril de 2011

Realengo, 7 de abril de 2011

Caro senhor administrador da melancolia da vida das pessoas,

ela ignorou minhas mensagens de celular. Há dois dias, não trocamos palavras. Nem "oi", nem "tchau", nem "o que vai cair na prova de ciências?"... Minha tentativa de aproximação, não mais como um amigo, tornou-se uma bomba, que explodiu pra sempre qualquer naturalidade de contato, que pretendíamos manter.

Eu não pretendo seguir muito mais além daqui. Não que eu vá me suicidar, mas eu perdi completamente o ânimo de me tornar alguém para alguma coisa, para alguém... Pouco acreditava num futuro, na política; via com vergonha alheia os planos do país de fazer uma copa do mundo e uma olimpíada por aqui; tinha poucos amigos, porque acreditava o próximo como alguém fingido, fingindo. Se algum observador atento já tinha percebido meu ceticismo com relação à vida, vai se sensibilizar com a forma como meus dias vão passando...

Minha única esperança, ainda que ridícula, era a realização desse amor romântico. Era a fuga para um mundo adolescente do qual biologicamente ainda pertenço. Achava que ela poderia resgatar minha esperança, minha disposição para um amanhecer menos mórbido, mais luminoso. No entanto, quis o destino que "minha primeira amiga" me arrancasse de um mundo fantasioso, para me jogar no nonsense de uma realidade em cactos...

Vou rasgar isso aqui...

Coitado... o professor segue a explicação sobre foco narrativo. "As pessoas não prestam muita atenção na matéria, mas se a gente prestar atenção, vai perceber que as pessoas não prestam muita atenção em nada, na verdade... e eu não tô falando só da escola..." ... Sinal... bem, continuo a carta na próxima aula...

Carta que poderia ter sido achada entre o material de algum dos meninos mortos na escola de Realengo.

Nos vemos.

ps: os trechos entre aspas foram tirados de Dom Carmurro e do roteiro do primeiro episódio de Tudo que é sólido pode derreter.

domingo, 3 de abril de 2011

Nova música de Marcelo Camelo, do novo disco "Toque dela"!



Esperemos pelo disco inteiro!

Nos vemos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Convite indesejável para ficar depois do fim do mundo

De repente, estava em um bote, na Praia Grande, São Paulo. Três amigos curiosamente também o acompanhavam. Não sabia como havia chegado até ali, nem conseguia explicar a presença daquelas pessoas junto com ele.

Era possível ver a praia com bastante nitidez. Não estavam, afinal, tão longe assim. Via crianças brincando na 'beradinha' da água; muitas porções de camarão, dezenas de peladas e 'peladas', carrinhos de sorvete, sambão na orla...

Foi apenas o tempo de olhar para o mar, mais uma vez para praia, outra vez mais para o mar. A onda veio! Gigantesca, monstruosa, espetacular... Levantou o bote uns quatro metros. O bote voltou faceiramente para a posição em que se encontrava antes da onda. Irritantemente intacto.

A onda seguiu para praia, feito um psicopata. Certa de que causaria, mas nem por isso alterada. Mataria a todos sem sombra de dúvida. Não sobraria coisa alguma em seu lugar.

Por que ele estava ali, no bote, a salvo? Afinal, assistia à devastação do mundo assim? Como que de camarote?

Alguns segundos, alguns menos, menos, menos...

Ele estava ali! Vivo! Respirando! Presenciando o fim, mas absolutamento vivo e sem perspectivas de morrer...

Estranho... muito estranho.

Nos vemos.

sábado, 26 de março de 2011

"Hoje eu não vou conseguir dormir"

Apago a luz. Deito-me. Toco com as mãos um travesseiro. Com os pernas, o outro. Agora são dois travesseiros. Até um tempo atrás, não era nenhum. Levanto-me. Fecho a janela, para evitar que a claridade crescente das primeiras horas do dia me acordem mais cedo do que gostaria. Deito-me. Levanto-me. Abro a janela, preferindo acordar mais cedo a dormir estático e doente, como uma saca de 50kg de batatas podres. Exagerei na imagem. Deito-me. Penso nas atividades mecânicas e desapaixonadas que deverei ter no dia seguinte. Levanto-me. O travesseiro das pernas caem no chão. Das minhas pernas. Preciso de cinco, dez minutos pra repensar no dia. Deito-me. Quanto mais tarde dormir, mais cansado estarei para ser mecanicamente perfeito. Penso fixamente na luz do celular para sentir sono. Levanto-me. Vou próximo da janela. Revejo cenas da noite que está acabando. Linda! A noite que está acabando. Espontânea, surpreendente a noite que se vai. Deito-me. Amanhã preciso de alguns carimbos, algumas assinaturas reconhecidas, alguns relatórios digitados. Levanto-me. Um copo... meio copo de leite... um quarto de um copo de leite; os outros 75% para o ralo da pia. Deito-me. Finjo que durmo. Finjo que sonho. Levanto-me. Os melhores sonhos são aqueles que temos acordados. Pieguice sem tamanho. Deito-me. Levanto-me. Os melhores sonhos são aqueles que vivemos. Como a noite que está acabando. Não estava dormindo. Ainda não estou. Ainda estou sonhando. Deito-me. Tento dormir para não sonhar mais. Levanto-me. Deito-me. Levanto-me. Hoje eu não quero dormir deitado. Hoje eu não vou conseguir dormir.

Nos vemos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Discurso sobre amizade adolescente.

Este discurso era para ser lido no dia 23 de dezembro de 2010, data do encontro anual dos formandos de 2004, do Colégio Gradual, na belíssima cidade de Santo André. No entanto, como algumas pessoas não puderem comparecer, publico-o, agora, com algum atraso - desculpável.

À medida que os anos passam, fica cada vez mais difícil pensar na gente. Quando entramos na universidade, bradávamos romanticamente contra o tempo e a distância. Mas... e hoje? Hoje que já somos maiores que o tempo e a distância, hoje que já somos profissionais, e que já temos nossa própria família, e que nos reinventamos 20 vezes ao longo do ano?

...

Honestamente... a minha impressão é que vocês estão guardados todos dentro de mim como verdadeiros deuses. E toda vez que me vejo em alguma situação de risco, seja ela de qualquer espécie, vocês surjem, heróis, absolutos, convictos para derrotar qualquer um... até eu mesmo, quando é preciso.


É era de nos vermos de novo! Para que acreditemos que não só existimos, mas estamos de bom grado dispostos a reproduzir aqueles abraços de 2004, 05, 06, 07, 08, 09...

terça-feira, 15 de março de 2011

E-mail, enviado em 11 de Março:

Você acha então a criança está mal colocada? Deveria ser um adolescente ouvindo a história? Outra coisa: você acha que existe mesmo um momento simbólico no qual tomamaos consciência da vida real? Estou perguntando de forma séria porque relamente gostaria de saber a sua impressão sobre isso...

Contiuando:

PARTE II

Respirando fundo, a mãe lançou se na tarefa de contar a versão real daquela história tantas e tantas vezes mentida para o filho:

- Os dois não se casaram, nem ficaram juntos. Na verdade, depois de dois meses de convivência - eles haviam ido morar juntos com os pais dela, que não eram reis coisa nenhuma, e sim donos de grandes bingos na região serrana do Rio -, as briguinhas, já muito comuns na época do namoro, tornaram-se decisivas para que ambos admitissem a incompreensão mútua.

Logo vieram as traições, seguidas de agressões físicas e, por fim, felizmente, a separação.

- Já existia separação naquela época? - perguntou curioso o filho.
- Claro! Sempre existiu! As pessoas sempre se separaram, oficialmente ou não...


E-mail resposta, recebido em 11 de Março:

Então sabe, pode ser várias coisas, ela pode ser uma criança prestes a descobrir a cruel realidade, pode ser um adolescente cansado de ouvir a mesma história, ou pode ser uma criança tão inoscente q não entenderá nad do q a mãe dirá... Sim, eu acho q na vida de td mundo tem algo q faz a pessoa mudar o pensamento e cair na realidade...
Enfim acho q as respostas são essas...

Fim do exercício, mas essa história poderia ir ainda bem longe...

Nos vemos.

sábado, 12 de março de 2011

Dois dedos de prosa ou comentários sobre um texto em construção

E-mail, enviado em 10 de Março:

Começando...:

PARTE I

- E os dois terminaram felizes pra sempre!
- É isso? A história para aí? Mãe, é assim que termina? Apenas um "felizes pra sempre"? - perguntou a crinça irritada...

A mãe não entendeu a reação de repúdio do filho. Achava que conseguiria dormir alguns minutos depois que falasse o "felizes pra sempre". Não escondendo a surpresa, e uma certa expressão de que sabia o que deveria fazer, perguntou:

- Você quer realmente saber o verdadeiro final da história?
- Quero!
- Então vamos lá!


(Lu, comente o que você quiser, até mesmo caso você não queria comentar nada. Se você quiser continuar a história, também fique à vontade...)

Grande abraço!

Alê

E-mail resposta, recebido em 10 de Março:

Tá, comentário:
Ri d+, eu fui ler o e-mail pensando: sobre o que será q é o texto, logo na primeira linha comecei a ri, não parei... sei q não era para ser o tipo texto comédia, mas é q depois de td oq nós conversamos...
Mas vamos lá, agora um comentário q possa te ajudar, ou não... a criança ta mesmo é com cara de adolescente desiludida... quando crianças somos induzidas a pensar q o mundo é colorido e perfeito, mas sempre tem um baque em nossas vidas q transforma o mundo colorido em preto e branco, esse baque depende de pessoa pra pessoa, ou de criança pra criança, para alguns é uma tragédia, para outros uma confiança mal dada, para outras é um texto, uma conversa, enfim...depois q o mundo vira preto e branco, o que td ex criança quer fazer, ou pelo menos aqueles q ainda tem alma de criança(se é q vc acredita nessas coisas), é tornar o mundo preto e branco, colorido novamente... tarefa difícil essa...
Vou continuar a h istória não... espero ter te ajudado pelo menos um pouco...

Luiza

Nos vemmos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

E se as escolas desfilassem ao contrário?

Era a última integrante da escola. Logo após sua passagem, o portão da dispersão fora fechado. Fim.

Não entendida muito bem toda aquela situação. Ali, do chão da avenida, via muitas pessoas cantando o samba-enredo. Tentava imaginar o que a Glenda Kolowiski falaria, caso fosse comentar sua fantasia: "Chico, trata-se de uma alusão a Zeus, aquele deus grego dos raios..." ...

Antes da entrada da sua ala - a última a entrar na avenida -, deveria ficar por ali, mal ouvindo as batidas da bateria. Caso pudesse, preferiria estar junto com a Sandy no camarote da "Devassa".

Estaria muito atrasada? Do ônibus, já conseguia ver a movimentação do sambódromo, típica dos dias de desfile. Deus tentara estragar o carnval com chuva, com água, e no entanto, estavam todos ali. Brasileiro não desiste nunca, né...

Ainda tremia. Na saída apressada, tomou o cuidado para não esquecer a fantasia. Sua escola desfilaria às 2h da manhã. Olhou no relógio; 23h23min. Postaria no twitter, caso estivesse em casa. Mas não estava. Se o trânsito ajudasse, chegaria a tempo!

Dispara.

O olhar dele parecia de um psicopata. Ainda que ela soubesse que ele estava muito nervoso, sua expressão era sempre a mesma. Ela começou a enumerar nomes: Ricardo, Daniel, Choquito, Vitinho, Saulo... "Fui para cama com todos eles!". "Foi, é?" Que inferno! Aquele homem parecia não ser atingido por nada... Correu até a gaveta embaixo da cama e pegou...

Interfone. Certamente é o porteiro avisando da chegada dele. Logo agora... Estava ansiosa pelo desfile... Droga! Teria que despachá-lo rápido. Queria logo o fim.

Nos vemos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Resenha



Oi. Pode parecer meio radical de minha parte... impensado, piegas... Mas preciso te dizer que estou irremediavelmente apaixonado por você.

Não é muito prudente perder a fala ou não agir espontaneamente quando estou perto de você, mas o fato é que essas reações - ou não-reações - são absolutamente incontroláveis.

Não foi amor a primeira vista, ou a segunda. Precisei de muitos encontros, de muitas conversas gritadas. Hoje, 20 de fevereiro de 2011, posso afirmar com alguma convicção e transbordando de emoção de que estou apaixonadíssimo. Romanticamente apaixonado. Largaria minha vida, meus discos, meus gibis, meus games, meus livros, meu trabalho. Se preciso fosse, ficaria com bem pouco de mim para ficar com tudo de você.

Não me diga que tudo isso se trata de um sentimento passageiro. Não. Não me apaxonei por conta de um momento no qual lhe vi bonita. Você não estava de maquiagem, ou sorrindo, ou poeticamente chorando. Você estava toda, 100%, fora de si.

Sua banda começou a cantar "Neighborhood #2 (Laïka)", do disco "Funeral", de 2004. A canção, por si só, já é bastante intensa, sobretudo nos vocais! Mas, em certo momento da música, próximo do último refrão, você enlouquece, grita!

Fiquei pensando se você tivesse a mesma reação quando fóssemos a uma sorveteria, ou andar de mãos dadas no parque, ou a um jantar romântico, ou a uma festa de escola. Tá... eu teria muito trabalho para explicar a sua reação para as pessoas normais, mas eu particularmente adoraria essa forma de engolir toda essa mesquinharia de realidade, cuspindo-lhe agudos raivosos! Seria inacreditavedlmente belo ser tragado pela erupção do seu comportamento acertadamente estranho.

Como disse, talvez de uma ocasião dessas, socialmente sobrasse muito pouco de mim, e certamente nada de você. Mas minha existência estaria premiada com a possibilidade de viver algo que fosse genuinamente real.

Régine Chassagne, traga o Arcade Fire para o Brasil neste 2011, e me faça o favor de corresponder ao meu amor.

Nos vemos.