terça-feira, 23 de julho de 2013

Juan Dias, o Dia!


Juan, o dia, era apenas um adolescente de sete horas e cinquenta e oito minutos de idade. Até então havia vivido uma infância de privações. Filho do medo da noite, até aquele momento conhecia apenas sombras e gente muito estranha.

Não foi, porém, sem dificuldade, que ele sentara ali naquela grama ainda molhada de orvalho, para pensar que seu aniversário chegaria logo – dali a dois minutos. Estava, pois, mais do que na hora para que ele decidisse o que exatamente ele iria querer ser para o resto de sua vida: mais um dia nublado, modorrento, comportando-se como alguém decidido a atrapalhar a vida dos outros; ou um dia bem sucedido, ensolarado, rebento, daqueles que chegam às sete da noite com saúde e lucidez suficientes para reviver as horas obscuras não como depressão, mas como um envelhecimento saudável e intelectualmente bem resolvido.

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O relógio apitou às 8h. Aniversário! Hora de comemorar mais uma hora de vida na vida de Juan Dias. Ou não!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma ilha para passear

"Passeios na Ilha", do Drummond, foi publicado pela primeira vez em 1952. Eu li uma edição da Cosacnaify, de 2011. O livro me tomou logo na primeira página, no primeiro parágrafo:


Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a coberto dos ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.
Ao longo das páginas da obra, o poeta vai falar das suas Minas Gerais, através de quadros impressionistas de Itabira e Ouro Preto; das injustiças que a classe média sofre nos discursos oficiais - e nos não oficiais também; e dos poetas cujas leituras são humanamente necessárias.

Para mim, contudo, esse primeiro parágrafo já guarda em si todo o conteúdo, e todos os sentimentos que Drummond sentia quando da época de sua publicação, e também o que sinto um pouco por viver nos tempos presentes. 

Não é exatamente a necessidade de fugir. Muito menos querer uma temporada de descanso, sossego. Trata-se muito mais da necessidade de me encontrar, ainda que seja numa ilha metafórica, para avaliar a existência. Também não se trata de uma avaliação sistemática, de ares depressivos. Preciso de serenidade suficiente para viver o belo da existência, no seu mais profundo sentido estético.

Nesse caso, importa-me, por exemplo, tanto o mais maravilhoso pôr do sol no parque, como o pranto de ansiedade quando se sabe o motivo para tal - ou, sobretudo -  quando não se sabe o motivo para tal. 

É, de fato, uma ilha metafórica. Para Drummond, nos seus "passeios", uma ilha de serenidade para que suportasse o pós-guerra. Para mim - nós -, uma ilha para que eu me suporte. Poder-se-ia talvez dizer uma ilha pré-guerra. Nela ainda receberia jornais, leria romances, assistiria a filmes comerciais, trabalharia, conversaria com meus amigos e os meus não-amigos. Mas teria exatamente na simultaneidade do meu viver a saúde suficiente para o próprio viver. 

"Passeios na ilha" deve ser lido. Eventualmente para que o transformemos quem sabe num livro de frases de auto-ajuda. Ou ainda para que tentemos compreender a importância do exercício de um poeta para adequadar-se ao seu próprio tempo.

Nos vemos.



terça-feira, 9 de julho de 2013

Voltei...

Voltei com mais perguntas! Segue, pois, a primeira - que, no fim de contas, não é essencialmente uma pergunta:

POR QUE NOS ENCHEMOS DE LITERATURA, SENÃO PARA NOS DEVOLVERMOS CHEIOS DE HUMANIDADE? 

Um post, a cada sete dias.

Nos vemos.