sábado, 26 de março de 2011

"Hoje eu não vou conseguir dormir"

Apago a luz. Deito-me. Toco com as mãos um travesseiro. Com os pernas, o outro. Agora são dois travesseiros. Até um tempo atrás, não era nenhum. Levanto-me. Fecho a janela, para evitar que a claridade crescente das primeiras horas do dia me acordem mais cedo do que gostaria. Deito-me. Levanto-me. Abro a janela, preferindo acordar mais cedo a dormir estático e doente, como uma saca de 50kg de batatas podres. Exagerei na imagem. Deito-me. Penso nas atividades mecânicas e desapaixonadas que deverei ter no dia seguinte. Levanto-me. O travesseiro das pernas caem no chão. Das minhas pernas. Preciso de cinco, dez minutos pra repensar no dia. Deito-me. Quanto mais tarde dormir, mais cansado estarei para ser mecanicamente perfeito. Penso fixamente na luz do celular para sentir sono. Levanto-me. Vou próximo da janela. Revejo cenas da noite que está acabando. Linda! A noite que está acabando. Espontânea, surpreendente a noite que se vai. Deito-me. Amanhã preciso de alguns carimbos, algumas assinaturas reconhecidas, alguns relatórios digitados. Levanto-me. Um copo... meio copo de leite... um quarto de um copo de leite; os outros 75% para o ralo da pia. Deito-me. Finjo que durmo. Finjo que sonho. Levanto-me. Os melhores sonhos são aqueles que temos acordados. Pieguice sem tamanho. Deito-me. Levanto-me. Os melhores sonhos são aqueles que vivemos. Como a noite que está acabando. Não estava dormindo. Ainda não estou. Ainda estou sonhando. Deito-me. Tento dormir para não sonhar mais. Levanto-me. Deito-me. Levanto-me. Hoje eu não quero dormir deitado. Hoje eu não vou conseguir dormir.

Nos vemos.

Um comentário:

Leandra Marcondes disse...

Bom Alê... o que eu posso te falar agora? Voce sabe que escreve maravilhosamente bem a ponto de me tocar, de estimular ideias, pensamentos e mais pensamentos. Depois que li esse post, meu Deus, o que em mim!? não sabia o que fazer, nem por que chorava, mais chorei... não me pergunte por que, não sei explicar... mais, acho que muitas vezes já fiquei assim, pensando, pensando, refletindo sobe coisas, que inevitávelmente, a noite, me dão medo, coisas bobas que a noite, em sua escuridão profunda, são os maiores medos da nossa vida... onde, na cama, sozinhos, ninguém pode nos ajudar, nos acalentar, por que ao declararmos nossos medos, nos dirão, (vira pro canto e dorme!), muitas vezes ouvi isso! hauahuaua depois te conto... mais, o personagem não é único, talvez, mais até comum....
obrigada pelos seus textos, e palavras, por me ouvir... e eu acho que voce não deve se preocupar em me dizer as coisas, como e te disse, gosto de ouvir, principalmente você...
obrigada...
Nos vemos...