quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Obrigado!

Discurso de Paraninfo para os alunos do 3ªA, Colégio Fleming Campinas. 07 de Dezembro. Ano 2011.

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Senhores pais, amigos professores, coordenação, direção, convidados,... Meninos ... boa noite!

É incrível pensar como depois de três anos - com encontros de quase duas horas semanais - eu ainda tenha coisas a serem ditas pra vocês.

Honestamente não haverá nada de novo. O curioso ou o interessante desta fala reside justamente na minha tentativa absolutamente amadora de falar coisas velhas - e descaradamente batidas - dando-lhes uma roupagem de gala.
A intenção - que fique bem claro! - é menos a pretensão, e mais a necessidade de vê-los, de novo, ... de vê-los, uma última vez, na verdade... atentos àquilo que eu julgo - arbitrariamente - importante falar sobre o mundo.

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Certa vez - era uma sexta-feira de 2009 - a Profª. Silvana, de Gramática, afirmou o seguinte a respeito do 1ºA - hoje 3ºA: “Eles são espetaculares! É a turma em que ninguém se repete... tem de tudo ali...”.

Na época, eu tinha inúmeros problemas de disciplina na turma. Por vários motivos. Mas... sobretudo... por eu não compreender que eu não podia dar UMA aula para 25 alunos. A fala da Profª. Silvana veio epifanicamente me esclarecer que eu deveria preparar de um mesmo tema 25 aulas para 25 alunos.

Evidentemente se alguém me perguntar, eu não vou conseguir nem esboçar uma resposta de como se faz isso. Também não posso garantir que de fato naquele ano eu tenha dado no mesmo espaço-tempo 25 aulas diferentes. Às vezes eram 23, 15, 7... às vezes - e eu preciso ser muito honesto com relação a isso - não conseguia nem meia aula direito.

Às vezes, contudo, - e essas também não foram poucas ao longo destes três anos como professor de Literatura -, cada uma das aulas que eu preparava... para cada um de vocês... de repente se fundiam em uma só, e de repente eu tinha a um só tempo a generosa e respeitosa atenção de todos de uma só vez. (Pausa) Aí... (Pausa) matávamos Inês de Castro juntos, morríamos de amar com Werther, subíamos em cima de defuntos na frente dos diretores da escola, na taverna do Álvares de Azevedo.

Vocês transbordavam da sala, esparramados... Rigorosamente travessos, forçavam os caprichos do mundo que queríamos na sem-gracisse do mundo que tínhamos. E mesmo nossas falas... ali dentro, elas nunca conheceram muitos os limites do que elas podiam dizer para aquilo que gostávamos de imaginar. E de repente... (pausa) por uma espécie de milagre absolutamente premeditado... (pausa) vocês sempre me faziam acreditar - porque, de fato, é verdade - que podemos muito mais o que queremos do que o que precisamos.

Nesses momentos, ... (pausa) onde estávamos menos na sala e mais no mundo, gradualmente nos despedíamos. Porque o professor... os professores... (pausa) servem pra isso mesmo: para escrever o melhor prefácio do mundo... sobre o mundo... para que depois vocês mesmo o conheçam, e o vivam, e o chorem, e o rasguem... e o reescrevam, e o mudem... como tão gentilmente vocês tantas vezes me mudaram...!

Obrigado!
Prof. Alexandre

sábado, 3 de dezembro de 2011

Augusto Mendes Ribeiro

No dia em que Augusto Mendes Ribeiro morreu, eu fiquei verdadeiramente triste. Ele era uma ótima companhia. Sobretudo para os momentos ruins! Quando eu estava quebrando a casa porque certa mulher não mais me procurava, ele aparecia com pinga, numa garrafa pet de 600 ml e me convidava a beber até morrer. Eu - evidentemente - bebia duas ou três doses e morria. Ele, quando eu 'ressuscitava' no dia seguinte, parecia ter passado a noite assistindo a filmes cults e comendo alimentos à base de soja.

Eu acho que fazia bem às minhas mediocridades ver o quão bem Augusto Mendes Ribeiro vivia como gente simples.

Aí ele morreu. De verdade. Nem foi da bebida. Até onde sei, parece que foi um atropelamento. Ele também não foi o culpado. Parece que o motorista - esse sim embriagado - avançou no farol vermelho. Às quatro da tarde! Aí ele morreu. Meio na hora, meio no hospital.

Eu acho que pessoas como o Augusto Mendes Ribeiro nem deveriam morrer. Eu deveria! Eu complico demais as coisas; tento adivinhar o futuro; preocupo-me exageradamente com minha imagem; aprendo coisas que nem são pra mim; tenho preguiça... e por aí vai... Já o Augusto Mendes Ribeiro vivia muito bem na sua simplicidade. E se agora ele morre - meio velho, meio novo, meio bêbado, meio bom, meio pobre, meio paupérrimo -, morre como um ser humano inteiro, que a vida toda não se preocupou em forjar as suas metadinhas, senão sendo.

Eu nem sei se adianta essa coisa de dizer em voz alta com fé. Ultimamente tanto a voz alta como a fé têm me faltado. De qualquer forma, Augusto Mendes Ribeiro merece toda a minha metade não afetada por mim: descanse em paz, meu bom amigo!

Nos vemos.