sábado, 17 de maio de 2014

Estou só esperando a escola terminar, para poder começar a ler de verdade!

Eu sei que a definição de uma lista de leituras obrigatórias para um vestibular do tamanho do processo seletivo da UNICAMP atende interesses que um professor de Literatura de ensino básico está longe de conhecer. Mas estou entediado com as 'grandes mudanças' anunciadas - como, por exemplo, se fez no última dia 30 de abril - que, no final, revelaram-se de pouquíssima valia para reestruturação do ensino de literatura no ensinos fundamental e médio.

Sem dúvidas, pensando nas universidades de São Paulo, a Unicamp parece mesmo sempre sair na frente no sentido da mudança. Também é inegável o fato de que não podemos atribuir somente a ela a responsabilidade pela evolução qualitativa do ensino de leitura no estado de São Paulo. No entanto, após 8 anos de lista unificada com a modorrenta USP, a manutenção de seis obras da lista anterior e, sobretudo, a adoção de apenas um livro de autor que ainda não morreu - ainda que seja o brilhante "Terra sonâmbula", do Mia Couto -, é frustrante, e de pouquíssima colaboração para criação de novas aulas, ou uma maneira diferente de se pensar a literatura nas salas de aula anteriores à universidade.

Apenas como exercício, se eu pudesse com uma 'canetada' alterar essa lista, proporia o seguinte:

- "A viagem do elefante", Saramago
- Qualquer coletânea de poemas da polonesa Wislawa Szymborska
- "1984", George Orwell
- "Wacthmen", Dave Gibbons
- Algum romance ou livro de contos dos novos e bons autores de literatura brasileira: Michael Laub, Luisa Geisler, João Gilberto Noll
- o próprio Mia Couto e suas "Terras sonâmbulas"
- "Ópera do malandro", "Gota d'água", Chico Buarque

Com essa lista, ainda que não fosse suficiente para promover grandes mudanças, tenho certeza de que teríamos mais gente lendo por gosto, e não por obrigação - inclusive professores!!! Se o problema é dinheiro, essas obras movimentariam cinemas, livrarias, sebos, feiras literárias, teatros,  venda de ebooks, blogs, youtube muitíssimo mais do que as obras que são adotadas desde que Caminha prestara vestibular!

Juntamente com as obras anteriormente sugeridas, não haveria problema algum em se mesclar com alguns clássicos, nem tão clássicos assim:

- Mantenhamos, por exemplo, a escolha de, "Negrinha", do Monteiro Lobato, que possui narrativas de tirar o fôlego
- Contos do Machado de Assis
- "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", da Clarice Lispector
- Coletânea de poemas do Fernando Pessoa ou do Drummond
- Retornemos, por exemplo com a leitura de "Angústia", do Graciliano Ramos

Se o problema, contudo, for a possibilidade do sepulcral abandono dos clássicos, como professor de literatura, posso afirmar com absoluta tranquilidade de que os textos originais estão se comunicando com um número cada vez menor de jovens… Triste? Não! Apenas geracional! Ou, na pior das hipóteses, um conjunto de erros de gestão que apontam a leitura daquilo que nossa literatura tem de melhor de forma inconsequente, sem respeitar maturidade de leitura, condições de trabalho do professor, ou mesmo discussões que coloquem o jovem no centro da recepção dessas obras, e não seus pais, ou nós, profissionais utópicos e caducos da historiografia literária tupiniquim-brasileira-lusinata-mundial-de-todos-os-tempos-fim!

Um comentário:

Rubens disse...

Watchmen ... arrojado, não?