quinta-feira, 1 de maio de 2014

Boys

Ela desviou da sua tentativa de beijo. Pretextou ir ao banheiro. Chamou as amigas e provavelmente não voltaria mais. Neto pegou o celular. Esperava encontrar uma mensagem de justificativa. Talvez enviada dali mesmo, do banheiro da balada. De fato, ele tinha 10 novas mensagens. Todas da sua melhor amiga, Júlia, perguntando de dez formas diferentes onde ele estava.

Pagou a comanda e dez minutos depois, já estava a dez quadras dali, estacionando o carro num posto pra beber um café de máquina, numa loja de conveniência.


***

Encontraram-se novamente por muitíssima coincidência na loja de conveniência.
- Por que você não quis me beijar?
- Não sei – ela tomou a direção da geladeira de energéticos.
“Faz dois anos que tenho tentado beijar você” – ele pensou em dizer; depois disse. - Eu realmente queria ficar hoje com você.
- Temos tempo. Se não foi hoje, poderá ser amanhã... quem sabe? – ela disse displicentemente sorrindo, pegando uma long neck de absolut.
“Acho que pra mim já chega” – ele pensou novamente em dizer, olhando pra ela absolutamente estilhaçado de amor. E então disse:   - Então amanhã a gente se vê?
- Se não for amanhã, poderá ser semana que vem. – Ela disse, já saindo da loja. A voz dela estava misturada a outras vozes e às músicas que explodiam janela à fora dos carros que estavam estacionados na frente da loja.

***

Não chegou a trancar o carro. Bateu a porta do quarto. Entrou pra dormir. Mas evidentemente não dormiu. Bebeu as cervejas que estavam na geladeira. Parou na frente do cartaz do filme “Her”, bêbado, mas incomodamente consciente. Desejou ter a namorada do filme.

Antes de cair na cama, ainda pegou novamente o celular para checar as mensagens. Duas notificações. Uma da melhor amiga. “Onde você tá, seu perdido?”; e outra dela. “Se não for semana que vem, ainda poderá ser...”

Deitou. Apertou o play do pc, sorrindo, e dormiu. Na playlist, uma única música: “Boys don’t cry”.


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