quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Viajando no voar do papel

Há uma semana, peguei-me com um grupo de amigos brincando de aviões de papel altas horas da noite. Eram desses modelos que, depois da decolagem e antes do pouso, brindam-nos com acrobacias e estripulias de literalmente tirar o fôlego e impor o sorriso, quando não, admiração.
Simples, pequenos e estranhos, estes aviões fizeram-me sentir o gostinho da liberdade no grau zero: sem instituições, sem corpo, sem asas; apenas alma e olhos na próxima curva. O vento que soprava fazia-me levitar e rodopiar pelo céu da rua Estrela Três Marias. Não era o presente que voava, mas também o ausente, o passado e o futuro. Passado de um ano atrás, futuro de um mês pra frente e presente de nem saber.
Quando o avião apontou para Campinas, aumentando minhas expectativas, logo se curvou para Assis, e rodou para Campinas novamente; quando rumou para o primeiro emprego, não se envergonhou de se virar apenas para a vida acadêmica; quando não sabia para que direção voar, manteve-se bem estabilizado aos olhos nipônicos; quando me levou longe dos meus amigos, trouxe-me perto de figuras de coração impressionante.
Teve os modelos que joguei e não voltaram; houve os que dei por perdido, mas, num ato de extrema ousadia acrobática, voltaram imponentes para a pista de pouso; confeccionei alguns defeituosos que voavam muito baixo; surpreendi-me com os tímidos, que pouca vontade tinham de voltar para a terra firme. Nessa variedade de modelos, espíritos e humor, encantei-me por um:

Quando do meio da nossa brincadeira, com um salto grande e praticamente mortal, fiz decolar esse um. E ele planou, e pairou, e girou, e curvou, e voltou, e tocou o céu; esta entidade que “não é um lugar e também não é um tempo”, e que mesmo abrigando a todos, não dá casa a ninguém. Ali, imagino eu, pela infinidade de segundos de demora do meu avião, fiquei a sentir o vento, a ver o tempo, a querer descanso, a desejar agito, a sentir trabalho, a querer amor.
O avião caiu. Eu, talvez, continue por lá.

Felicidades Eternas e, nos vemos.

6 comentários:

Anninha disse...

Quantos aviões passam, pousam, decolam, vão embora e voltam... A vida é essa eterna ida e vinda, decolagem e pouso, mas a vida é principalmente aquele avião pequeno que faz sempre o mesmo trajeto: de um coração que ama até o outro que é amado e vice-versa.
Às vezes o avião cai, mas consertamos, e chega um momento que ele decola, encontra a pista de pouso mais perfeita que existe e então só voa se for acompanhado.

Adorei o texto, Alê. Criou lindas imagens, trouxe pensamentos belíssimos, e colocou você aqui pertinho, mesmo estando longe.
Voe sempre, porque sei que você já sabe para onde retornar quando precisar pousar.

Um forte abraço!

Anônimo disse...

Meu caro AMIGO, fico encantado a ler tal obra. Como essa moça ai em cima disse, vários desse "papeizinhos" se espalham mas devemos apreciar aquele que faz a ponde áerea coração - coração. Esse é o principal instrumento de nossa felicidade...

Também gostei muito do texto. Elogio sua criatividade. Precisamos conversar como crianças novamente. Esse texto me trouxe grandes lembranças.

Um grande abraço e, como sempre, *FELICIDADES ETERNAS*

ps. DA UMA PASSADINHA NO MEU BLOG.

Anônimo disse...

olha,,, essa era minha intençao tbm: descrever aquela noite em meu blog, mas de certo nao conseguiria faze-lo com tal sinceridade e beleza... fico feliz por vc ter conseguido... de consolo, me resta a alegria de carol ao me ver feliz como uma criança com uma sorriso que, segundo ela, era digno de uma foto... como é bom ser criança... orbigado, "corujao"...

ass: morcego branco

Anônimo disse...

Não sei o que escrever. Sinceramente. As vezes, as idéias param no tempo. Um avião de papel. Quem diria que havia poesia nisso. E por que não haveria? A vida é como um avião de papel. Imprevisível. Decola jogada, varia, vira, sobe e desce sem aviso. Passa perto do chão. Encontra um vento que lhe dá novas forças para enfrentar a jornada aleatória de caminhos quaisquer. Às vezes, tromba com outro avião. Às vezes, no acaso mais feliz da vida de um avião, um completa o outro.
Deixe seu avião ao vento, mas não à qualquer vento. E que esse seu modelo especial seja aquele que voe por tempo suficiente para você aproveitar essa sensação de liberdade.

BH
(eu sei...ficou um lixo)

Anônimo disse...

Nossa Alê... nem sei o que escrever....
Dessa vez vc me pegou mesmo...
As vezes.. eu queria poder voar... como o seu aviãozinho...e poder chegar pertinho do meu amor...
Só olhar um pouquinho... e eu estaria mais feliz...

Anônimo disse...

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