Viajando no voar do papel
Há uma semana, peguei-me com um grupo de amigos brincando de aviões de papel altas horas da noite. Eram desses modelos que, depois da decolagem e antes do pouso, brindam-nos com acrobacias e estripulias de literalmente tirar o fôlego e impor o sorriso, quando não, admiração.
Simples, pequenos e estranhos, estes aviões fizeram-me sentir o gostinho da liberdade no grau zero: sem instituições, sem corpo, sem asas; apenas alma e olhos na próxima curva. O vento que soprava fazia-me levitar e rodopiar pelo céu da rua Estrela Três Marias. Não era o presente que voava, mas também o ausente, o passado e o futuro. Passado de um ano atrás, futuro de um mês pra frente e presente de nem saber.
Quando o avião apontou para Campinas, aumentando minhas expectativas, logo se curvou para Assis, e rodou para Campinas novamente; quando rumou para o primeiro emprego, não se envergonhou de se virar apenas para a vida acadêmica; quando não sabia para que direção voar, manteve-se bem estabilizado aos olhos nipônicos; quando me levou longe dos meus amigos, trouxe-me perto de figuras de coração impressionante.
Teve os modelos que joguei e não voltaram; houve os que dei por perdido, mas, num ato de extrema ousadia acrobática, voltaram imponentes para a pista de pouso; confeccionei alguns defeituosos que voavam muito baixo; surpreendi-me com os tímidos, que pouca vontade tinham de voltar para a terra firme. Nessa variedade de modelos, espíritos e humor, encantei-me por um:
Quando do meio da nossa brincadeira, com um salto grande e praticamente mortal, fiz decolar esse um. E ele planou, e pairou, e girou, e curvou, e voltou, e tocou o céu; esta entidade que “não é um lugar e também não é um tempo”, e que mesmo abrigando a todos, não dá casa a ninguém. Ali, imagino eu, pela infinidade de segundos de demora do meu avião, fiquei a sentir o vento, a ver o tempo, a querer descanso, a desejar agito, a sentir trabalho, a querer amor.
O avião caiu. Eu, talvez, continue por lá.
Felicidades Eternas e, nos vemos.
6 comentários:
Quantos aviões passam, pousam, decolam, vão embora e voltam... A vida é essa eterna ida e vinda, decolagem e pouso, mas a vida é principalmente aquele avião pequeno que faz sempre o mesmo trajeto: de um coração que ama até o outro que é amado e vice-versa.
Às vezes o avião cai, mas consertamos, e chega um momento que ele decola, encontra a pista de pouso mais perfeita que existe e então só voa se for acompanhado.
Adorei o texto, Alê. Criou lindas imagens, trouxe pensamentos belíssimos, e colocou você aqui pertinho, mesmo estando longe.
Voe sempre, porque sei que você já sabe para onde retornar quando precisar pousar.
Um forte abraço!
Meu caro AMIGO, fico encantado a ler tal obra. Como essa moça ai em cima disse, vários desse "papeizinhos" se espalham mas devemos apreciar aquele que faz a ponde áerea coração - coração. Esse é o principal instrumento de nossa felicidade...
Também gostei muito do texto. Elogio sua criatividade. Precisamos conversar como crianças novamente. Esse texto me trouxe grandes lembranças.
Um grande abraço e, como sempre, *FELICIDADES ETERNAS*
ps. DA UMA PASSADINHA NO MEU BLOG.
olha,,, essa era minha intençao tbm: descrever aquela noite em meu blog, mas de certo nao conseguiria faze-lo com tal sinceridade e beleza... fico feliz por vc ter conseguido... de consolo, me resta a alegria de carol ao me ver feliz como uma criança com uma sorriso que, segundo ela, era digno de uma foto... como é bom ser criança... orbigado, "corujao"...
ass: morcego branco
Não sei o que escrever. Sinceramente. As vezes, as idéias param no tempo. Um avião de papel. Quem diria que havia poesia nisso. E por que não haveria? A vida é como um avião de papel. Imprevisível. Decola jogada, varia, vira, sobe e desce sem aviso. Passa perto do chão. Encontra um vento que lhe dá novas forças para enfrentar a jornada aleatória de caminhos quaisquer. Às vezes, tromba com outro avião. Às vezes, no acaso mais feliz da vida de um avião, um completa o outro.
Deixe seu avião ao vento, mas não à qualquer vento. E que esse seu modelo especial seja aquele que voe por tempo suficiente para você aproveitar essa sensação de liberdade.
BH
(eu sei...ficou um lixo)
Nossa Alê... nem sei o que escrever....
Dessa vez vc me pegou mesmo...
As vezes.. eu queria poder voar... como o seu aviãozinho...e poder chegar pertinho do meu amor...
Só olhar um pouquinho... e eu estaria mais feliz...
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