sábado, 16 de abril de 2011

A história das coisas I - na mesa, exceto o computador.

As caixinhas de som não são minhas. Achei em casa, em algum móvel perdido - o móvel e as caixinhas.

O estojo tem estampas do Sonic. Ganhei da minha mãe na segunda série. Uso-o até hoje. Provavelmente não haverá um tempo em que não vou usá-lo.

Ele, o estojo, está em cima de uma pilha de 30 provas. Sou professor. De literatura. Essencialmente de literatura. As provas são de literatura. Considere que existe um espaço-tempo em que se fazem provas de literatura.

Há quatro livros empilhados, ao lado direito, próximo ao computador. "Histórias Extraordinárias", "Um estudo em vermelho" e "Ilha do tesouro" - livros com os quais trabalhei no primeiro bimestre nas escolas em que atuo; "O renascimento italiano", Peter Burke - para pesquisa.

O celular é um modelo da Sansung. Tem exatamente um ano. Serve bem para as ligações e para identificar músicas.

Nos vemos.

sábado, 9 de abril de 2011

Realengo, 7 de abril de 2011

Caro senhor administrador da melancolia da vida das pessoas,

ela ignorou minhas mensagens de celular. Há dois dias, não trocamos palavras. Nem "oi", nem "tchau", nem "o que vai cair na prova de ciências?"... Minha tentativa de aproximação, não mais como um amigo, tornou-se uma bomba, que explodiu pra sempre qualquer naturalidade de contato, que pretendíamos manter.

Eu não pretendo seguir muito mais além daqui. Não que eu vá me suicidar, mas eu perdi completamente o ânimo de me tornar alguém para alguma coisa, para alguém... Pouco acreditava num futuro, na política; via com vergonha alheia os planos do país de fazer uma copa do mundo e uma olimpíada por aqui; tinha poucos amigos, porque acreditava o próximo como alguém fingido, fingindo. Se algum observador atento já tinha percebido meu ceticismo com relação à vida, vai se sensibilizar com a forma como meus dias vão passando...

Minha única esperança, ainda que ridícula, era a realização desse amor romântico. Era a fuga para um mundo adolescente do qual biologicamente ainda pertenço. Achava que ela poderia resgatar minha esperança, minha disposição para um amanhecer menos mórbido, mais luminoso. No entanto, quis o destino que "minha primeira amiga" me arrancasse de um mundo fantasioso, para me jogar no nonsense de uma realidade em cactos...

Vou rasgar isso aqui...

Coitado... o professor segue a explicação sobre foco narrativo. "As pessoas não prestam muita atenção na matéria, mas se a gente prestar atenção, vai perceber que as pessoas não prestam muita atenção em nada, na verdade... e eu não tô falando só da escola..." ... Sinal... bem, continuo a carta na próxima aula...

Carta que poderia ter sido achada entre o material de algum dos meninos mortos na escola de Realengo.

Nos vemos.

ps: os trechos entre aspas foram tirados de Dom Carmurro e do roteiro do primeiro episódio de Tudo que é sólido pode derreter.

domingo, 3 de abril de 2011

Nova música de Marcelo Camelo, do novo disco "Toque dela"!



Esperemos pelo disco inteiro!

Nos vemos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Convite indesejável para ficar depois do fim do mundo

De repente, estava em um bote, na Praia Grande, São Paulo. Três amigos curiosamente também o acompanhavam. Não sabia como havia chegado até ali, nem conseguia explicar a presença daquelas pessoas junto com ele.

Era possível ver a praia com bastante nitidez. Não estavam, afinal, tão longe assim. Via crianças brincando na 'beradinha' da água; muitas porções de camarão, dezenas de peladas e 'peladas', carrinhos de sorvete, sambão na orla...

Foi apenas o tempo de olhar para o mar, mais uma vez para praia, outra vez mais para o mar. A onda veio! Gigantesca, monstruosa, espetacular... Levantou o bote uns quatro metros. O bote voltou faceiramente para a posição em que se encontrava antes da onda. Irritantemente intacto.

A onda seguiu para praia, feito um psicopata. Certa de que causaria, mas nem por isso alterada. Mataria a todos sem sombra de dúvida. Não sobraria coisa alguma em seu lugar.

Por que ele estava ali, no bote, a salvo? Afinal, assistia à devastação do mundo assim? Como que de camarote?

Alguns segundos, alguns menos, menos, menos...

Ele estava ali! Vivo! Respirando! Presenciando o fim, mas absolutamento vivo e sem perspectivas de morrer...

Estranho... muito estranho.

Nos vemos.