terça-feira, 30 de novembro de 2010

A VERDADE

Depois de anos de busca, andando pelos lugares mais recônditos do mundo, ele havia encontrado, pelas mãos de um indiano aportuguesado o baú no qual se dizia repousar A VERDADE...

Não largou o baú em um só momento na viagem de volta para o Brasil. Carregou-o dentro da sua bolsa de mão.

Agora lá estava ele. No seu quarto, agora sozinho, absolutamente sozinho. Nem cadeado havia para retardar o certo momento epifânico.

Levantou a tampa e, como esperava - aliás, como havia fantasiado sua vida inteira -, A VERDADE estava escrita em uma folha de papel. Não era uma folha especificamente diferente. Nada de aparência de velha, ou feita de um material desconhecido... A VERDADE estava escrita em uma folha de sulfite.

Não prolongou mais. Pegou no papel. Leu, escrito na sua parte exterior: "Abra!".

Após desdobrar o papel, A VERDADE apareceu...:



















"Feche!"

Nos vemos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mudança de quarto, mudança de móveis

Se tiro uma cama, fico marcadamente sozinho.
Se coloco uma de casal ou casei ou sou safadamente solteiro.
Ponho lá uma tv e um play 3, transformo-me num anti-social.
Grudo na porta uma placa de "Não perturbe" e irremediavelmente não serei perturbado. Pode ser que eu fique lá até começar a feder.
Se compro um tapete, sou fresco.
Se deixo sem varrer, sou porco.
Colocando meus livros, sou intelectualzinho de merda. Se deixo sem, me chamam de fútil.
Se decoro com fotos dos meus amigos, sou adolescente. Se fico visualmente sozinho, sou o coração gelado.
Se organizo posições, cores e tamanhos, tenho toque. Mantendo minha anarquia, sou muleque desorganizado.
Se entro com mulher, sou machão pegador; com homem, gay; sozinho, dispensável.

Se permaneço indiferente, não mudo. Se mudo, não falo.
Ph, por que você foi mudá?

Nos vemos.

ps: Bob, boa sorte!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Carta para minha namorada da década de 50 (do século XX)

Linda,

hoje eu te vi. Você estava passeando com a sua mãe pelo Jardim Botânico. Estavam você, sua mãe, mais duas moças que eu não conhecia. Você estava tão linda. Nem me fiz reparar. Eu vinha de uma corrida atrás de um papagaio.

Quando cheguei em casa, não consegui fazer outra coisa, senão pensar em você. Esta carta foi a solução que encontrei para não pensar tanto em você à toa.

Você me acha bobo? Se eu, por acaso, usar as próximas todas linhas para enumerar as qualidades que acho em você, você se cansaria de mim? Eu não sei exatamente qual é a medida literária para demonstração do meu amor. Caso você se canse, prefira rasgar a carta a terminá-la enjoada de mim. E, se inevitavelmente você se cansar de mim, não se tranque numa torre pra sempre. Siga com seus passeios matutinos, quando a luz do dia favorece sua beleza pueril; continue olhando a lua para que a noite projete suas sombras de mulher.

Nem sei mais o que fazer sem você. Não sou dado a exageros românticos, mas também nem ligo para as afetações do meu romantismo, se o fim primeiro e último é saturar meu sentimento insaturável (existe essa palavra?) por você.

Outro dia, o professor de artes propôs que desenhássemos uma rosa. Eu tinha duas folhas. Gastei a primeira escrevendo acidentalmente seu nome 1437 vezes. Na segunda, não consegui desenhar nada até o final da aula. Voltei pra casa com uma terceira folha; a da advertência dada pelo professor. No verso dessa, finalmente consegui desenhar algo; desenhei seu rosto.

Espero que quando você de ler esta carta, fique pensando em mim por muito tempo. Melhor: perca a noção do tempo. Até de mim já me perdi, pensando em você...

Espero que possamos conversar amanhã. Não que eu tenha muito o que falar. Mas é sempre bom te ouvir.

Um beijo carinhoso, do seu namorado.



O remetente dessa carta nunca chegou a entregá-la. Na verdade, ela nunca sequer existiu. Seu primeiro registro é este, que é virtual e portanto não existe.

Mesmo se a carta tivesse existido, nunca teria sido entregue. O autor dela certamente nunca teria nem conhecido a destinatária. Seria um amor, desses platônicos, para os quais se escrevem cartas que nunca se enviam...

Nos vemos.

ps: post motivado pelo filme "A felicidade suprema" (2010), de Arnaldo Jabor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

AGENDA DO FERIADÃO:

SÁBADO (30.10):
Micareta em Caconde! No cardápio, Chiclete, Ivete, Margarete. Participação especial.: Vitor e Leo.

DOMINGO (31.10):
Balada de Haloween em Campinas! Open Bar, DJs tops. Justifique seu voto na balada!

Segunda (01.11):
Para esfriar a cabeça, cineminha!!! Uma bela comédia romântica para aumentar as taxas diabéticas...!

Terça (02.11):
Ler, ler, ler! Dan Brown, Saga Crepúsculo, Paulo Coelho!


"Criminterrupção significa a capacidade de estacar, como por instinto, no limiar de todo pensamento perigoso. O conceito inclui a capacidade de não entender analogias, de deixar de perceber erros lógicos, de compreender mal os argumentos mais simples, caso sejam antagônicos ao Socing, e de sentir-se entediado ou incomodado por toda sequência de raciocínio capaz de enveredar por um rumo herético. Em suma, criminterrupção significa BURRICE PROTETORA".

(Fragmento do livro 1984, de George Orwell)


Não estou propondo uma intelectualização do tempo livre apenas como articulação de uma imagem de ser superior. Estou marcando a necessidade de que tenhamos os olhos abertos!

Nos vemos.