Escuta o silêncio...
As pessoas andavam constantemente cansadas. O trabalho minava as energias físicas, a falta dele, as psicológicas; a violência testava os limites da tolerância; a correria fazia os relógios biológicos ficarem confusos, e os relógios emocionais, precisando de análise. A vida na Terra não queria mais infância, nem juventude, nem maturidade, nem terceira idade. Ela queria um bando de operários que, qualificados ou não, fizessem o planeta funcionar minimamente em ordem. Não importavam mais as regras de segurança no ambiente de trabalho, nem no de convívio, nem para quem aqui vivesse ou daqui se utilizasse.
Foi então que, pensando em como otimizar a relação com família, namorada, amigos e trabalho, certo sujeito, o qual chamaremos de x, resolveu encarar a sua rotina de vida. De um lado, o jovem franzino e mal-acabado, cheio de limitações e lamentações; do outro, as 168 horas semanais de labuta, estudo, superficial convívio social e pressa.
Ambos sabiam que a força não venceria o embate, mas a rotina contava com a tática do desgaste gradual. Nosso colega desgastado, x, não resistiria e, certamente, se findaria.
Apelando então para aquilo que lhe sobrava de sinapses, ele surpreendeu!
Inventou o silêncio diário e coletivo. Numa certa hora do dia, o mundo deveria calar- se. Não vozes humanas, não barulho de máquinas, não ranger de dentes ou mugir de estômagos, nem rancar de metralhadoras, nem explodir de bombas. Apenas o silêncio...
Nesses momentos, a movimentação deveria se dar dentro de cada um, e em todos. Tempo de fechar os olhos e pensar naquilo que interessasse, ou não pensar em nada. As pessoas passariam a ceder a vez de falar para o próximo, que por sua vez, passaria a vez também. O silêncio passaria à regra e o falar, á exceção. Um imenso silêncio para entender que o palavrão do qual me xingaram foi falado da boca pra fora; a guerra que começou não tem sentido coerente; a criança que está chorando não berra só de fome.
O silêncio seria útil pra eu ouvir o grito de desespero que o mundo solta. O choro por desespero: aquele que mal deixa a gente chorar, apenas dor e angústia. O silêncio seria útil pra acalmar aqueles que se dizem calmos.
X acertou na invenção.
Silenciar. Idéia genial em tempos geniosos.
Mas ninguém nem não silenciou...
Felicidades eternas e, nos vemos.
3 comentários:
ja dizia arnaldo antunes:
"vamos ouvir esse silêncio, meu amor, amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito,
esse tambor..."
se é q vc me entende...
ouçamos o silencio.... portanto, apenas digo q achei lindo. e me calo. bjus
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