quinta-feira, 22 de julho de 2010



Já há algum tempo tenho tentado entender os efeitos da literatura em mim. Ao final da releitura desse intrigante - desculpem-me a incompetência por não achar os adjetivos mais precisos; vocês hão de convir que não é uma tarefa muito fácil para a obra de Franz Kafka - romance, talvez eu já consiga arriscar algumas descrições.

Como não deve ter sido muito difícil imaginar, na semana passada, quando assisti a "Invictus", fiquei muitíssimo emocionado. Todos os questionamentos que aquela obra me provocou foram resolvidos numa descarga excepcionalmente forte de emoção.

Mas e agora? Agora que termino a leitura de um dos livros mais importantes da história da literatura? Minha resposta, ainda que apressada e sem o devido afastamento das paixões humanas: isso que estou sentindo vai me influenciar por dias a fio, talvez por meses...

Josef K. precisava ser processado por um tribunal imaginário para ter a sua autoconsciência despertada. Seus 365 dias de processo revelaram nele e pra ele uma profundidade psicológica, provocadora de auto-constestações - que nem uma vida inteira de análise ou reconhecimento social lhe dariam.

Os quase-casos amorosos que teve ao longo da narrativa, bem como as figuras intrigantes que encontrou com o objetivo de ver o seu caso resolvido, livraram-no dos procedimentos padrões que temos para a viver a vida e colocaram na sua frente o desafio paralisador que é o mergulho no seu prórpio "Eu".

Na medida do possível, tentei manter a postura de um leitor analítico, mais preocupado com o entendimento do que com as sensações. No capítulo nono, contudo, quando K. adentra a catedral, fui tomado de assalto por uma suspensão grave.

Tornei-me Josef K., preocupado em analisar momentos estratégicos de minha vida em que busquei por soluções aparentes para meus conflitos existenciais. Não é difícil imaginar que li e reli a história contada pelo sacerdote tentando encontrar em alguma brecha do simbólico a resposta para - como diria Douglas Adams - a vida, o universo e tudo o mais... Não achei.

Estou tão sem conclusões, como ainda permanecem os manuscritos de Kafka, e, honestamente, por conta das ausências de descargas emotivas - tão comuns ao univeso do cinema - devo continuar assim por um bom tempo...

Nos vemos.

Um comentário:

* Leticia * disse...

Oi Alê!!
Ah, sinceramente... detesto quando algum livro me deixa assim, como você ficou, mais claro que você fica pior do que eu, exatamente pela sua carga de conhecimento, mil vezes maior que a minha, mais espero que encontre suas respostas... de verdade ;)

Obrigada por tudo!!
Beijinhoss