terça-feira, 24 de maio de 2011

O soco!

A porta do meu guarda-roupa, há uns três meses, descolou-se da estrutura do embutido. Coloquei atrás da porta do meu quarto. Ficou lá, por longos três meses, parada.

Todos os dias, quando eu acordava, e abria a porta do quarto, ou a fechava, o pedaço de madeira tremia, como quem quer cair, mas não cai porque sua intenção era mesmo só dar medo em quem pudesse pensar que ela poderia cair.

Três meses. É bastante tempo. É até difícil contar quantas vezes eu entrei e sai do quarto. É tempo mais que suficiente para eu sair desse quarto e talvez não voltar mais. É tempo para eu ficar dentro escrevendo um livro. Começar e terminar o livro, na verdade.

Três meses. É possível ter muitos dias sensacionais em três meses. E dias muito ruins. E dias péssimos.

A porta do guarda-roupa ficou ali: obediente, estática. Em um dos dias, dois até, tirei a porta do lugar para varrer aquele canto. Não demorei muito para botá-la onde estava.Já havia passado muitos dias antes da limpeza. Depois disso, outros tantos passaram.

E não é que hoje, no fim do dia, quando já não se está com disposição pra mais nada, a porta não saiu do lugar! Arrumei a cama pra dormir, vesti a roupa de dormir, escovei os dentes para dormir, desliguei o computador. Fui dormir. Quando fui fechar a porta do quarto, eis que veio a porta do guarda-roupa, com vida própria, socar o meu rosto... em cheio!

Não revidei. Coloquei a porta novamente no seu devido lugar. Vai ficar o roxo do soco. Vai ficar a sensação de que eu poderia ter evitado o soco se tivesse consertado o problema nos três meses que tive para consertá-lo.

Nos vemos.

sábado, 14 de maio de 2011

Era uma apresentação de coral. No Auditório Ibirapuera. A plateia estava lotada. Eram pessoas para ocasião e pessoas ocasionais, que aproveitavam o fim de tarde no parque e aproveitaram para sentar e assistir ao que iria acontecer. Certamente essas estavam dispostas a ver o que fosse.

Depois dos três sinais, os integrantes do coral entraram. Um a um. Brancos, negros, senhoras, jovens, senhores, moças. Não contei quantos e quantas entram para cantar. Talvez duas dezenas de pessoas.

Foi a última das integrantes, contudo, que me impressionou. Ela era loira, alta, talvez tivesse seus 1,80m. Tinha um rosto absolutamente discreto. boca pequena, olhos pequenos, a constância do quase sorriso. Fiquei impressionadíssimo. Não tirei os olhos dela durante boa parte da apresentação. Passou Vinicius, Gilberto Gil, Tom Jobim... Nada disso foi mais impactante do que ela. Na verdade, acho que nunca tinha visto uma mulher tão bonita como aquela. Tanto que quando pisquei e voltei a olhá-la, já não era mais ela. Tratava-se de um quadro, uma pintura. E não falo em termos metafóricos não... era realmente um quadro, no qual o pintor havia tido a felicidade de fazer ali uma obra prima.

A mulher mais bonita que eu já vi... As cores eram suaves, mas me atingiam com uma intensidade indescritível. Os traços eram fugidios, mas marcaram com bastante contundência aquela imagem na minha memória. Nunca esquecei tamanha beleza!

No final da apresentação, voltei a piscar, e tive a impressão de vê-la se mexer. Acho que era esse o meu desejo: vê-la real! Não se mexeu era o memso quadro estático, de beleza etérea. Pisquei mais uma vez e nem o quadro era mais.

Sobrava apenas eu, sentado sozinho ali no auditório.

Nos vemos.