quinta-feira, 31 de julho de 2008

Como acabar com os dramas!: sendo um bom ator no silêncio

Imagine o pior dos cenários:

Você perde alguém querido, ou briga com a(o) namorada(o), ou perde o emprego, ou seja lá o que for de pior, ou que te faça muito triste. Qual é a solução?
Não sei. A saída – momentânea – é se trancar no quarto e ouvir alguma música que te faça estar à vontade no teu sofrimento.

Chegamos ao ponto.

Escolhe-se a música mais adequada; e com a melodia dela, sentimo-nos tristes da forma mais cênica possível. Como se precisássemos de uma platéia que reconhecesse o quão bem sabemos sofrer. Tem de tudo: lágrimas, expressões faciais curiosíssimas, e, repare, trilha sonora!!!!

No entanto, em certo momento, percebemos que somos amadores. Quando? No momento em que a música acaba. A próxima faixa com toda certeza não traduz toda dramaticidade necessária a cena que engendramos.

Aí fica uma situação desconfortável porque somos obrigados a interromper nossa atuação – mais do que isso: nosso sofrimento – pra voltar a música que principiou. E tudo que já havíamos interpretado pede nova interpretação. O problema é que pra fazer de novo, choramos de novo, e lembramos de novo, e morremos de novo.

Até que uma hora a repetição aborrece. Até que uma hora não faz mais sentido chorar tanto, da mesma forma, pelas mesmas perdas, ou decepções, ou aporrinhamentos...

O que me leva a pensar que talvez o nosso sofrimento seja do tamanho de uma música convencional... uns três minutos e meio. O que me leva a pensar que se adequássemos nossas emoções a música clássica, sofreríamos bem mais, uma vez que são músicas longuíssimas, sem fim... O que me leva a pensar que se escutássemos músicas menores, quase não sofreríamos; a menos, é claro, que as repetíssemos mais do que o normal. O que, por fim, me leva a pensar que se não escutássemos música, não teríamos motivo para ficar tristes.

Hum... muito bom!

Felicidades eternas e, nos vemos.

4 comentários:

Unknown disse...

Eis que renasce uma referência.

E embora a "metamorfose ambulante" continue vagando, ainda há uma esperança!

Ao som das minhas músicas, claro.

Bjos

V.D.S. disse...

Pelo fim das músicas! Proíbam os rádios de tocar!

Milene disse...

Sim! Muito bom!
Isso me levou a pensar que sou tipicamente uma sofredora pela música.

Hmmm isso não está certo, não está...

... é quase uma traição!

Mas... considerando que também há Ramones numa Pet Cemetary, por exemplo, a lógica me leva a pensar que posso tanto me encontrar com minha mais sombria infelicidade dentro de mim numa fração de uma música (a tal da dor lancinante, eita!), ao mesmo tempo que posso ter também um encontro com a parte absolutamente idiota que balança a cabeça e o corpo enquanto limpa uma casa, ou mesmo que, de repente, por uma música, pode ter um dia que comece bem, bem, bem feliz!

Sim. Agora está certo! Você está certo. Na música somos sentimentos, somos nós nos encontrando, amando, sofrendo, rindo e chorando. Um encontro com si mesmo que nada pode substituir.
Perfeito! Perfeito, Alê. Brilhante e maravilhoso.

Anônimo disse...

Como sempre, você ainda escreve bem melhor do que eu. Um dia eu ainda faço um texto tão bom quanto os seus meu velho...muito bom.
(voltei com meu antigo blog, o link está logo alí...)